terça-feira, 8 de abril de 2008

ARCADAS E XI DE AGOSTO, PALCOS DA MEMÓRIA AFETIVA




Certas Canções tem várias sedes, como as viagens que os jovens faziam nos anos 80. Há canções no Rio de Janeiro, em São Tomé das Letras, na Ilha do Mel, em Fortaleza, etc. Mas é ambientado na Faculdade de Direito do Largo São Francisco e no Centro Acadêmico XI de Agosto. Era onde tinham aulas e de onde partiam para passeatas, penduras ou peruadas.

Leia um pouco sobre a Faculdade e o XI em “Certas Canções”

Um bom sinal foi uma manifestação pela volta da democracia diante do Largo São Francisco, dissolvida à base de gás lacrimogêneo e bombas de efeito imoral. Uma
correria que parecia abrir uma pequena janela no tempo para mostrar a nós, alunos novos, como eram os dias de protesto da velha guarda. Houve feridos, houve revolta, e o Secretário de Segurança, irmão de um professor nosso, correu à faculdade para se explicar. O secretário subiu na escada central do térreo, que lhe serviu de púlpito, emoldurado pelos belíssimos vitrais do átrio. Lá mesmo, onde o Carvalhosa mais tarde faria um emocionado e ovacionado discurso de despedida após sair derrotado, segundo se dizia, por questões políticas, em uma disputa para professor titular. O secretário chegou sem avisar e, mesmo assim, logo após já estava cercado por uma centena de estudantes que se amontoavam no térreo com cara de poucos amigos.

CAÍA A TARDE FEITO VIADUTO e nós fomos à Praça da Sé. Um grupo de vinte ou trinta estudantes que haviam passado o dia no XI de Agosto em vigília cívica. Cívica e líquida. Depois de já estarmos calibrados, com um tanto de pinga, outro tanto de cerveja, seguimos em romaria à nossa Sé. Para acompanhar ao vivo a votação das diretas. Ao vivo, naquele dia, queria dizer que alguém estava ouvindo pelo rádio e afixando pequenas plaquetas de sim e não no imenso outdoor levantado na praça, com o nome de todos os deputados. Sim, porque o governo, o Congresso, os militares, eles enfim, não permitiram que aquela histórica sessão fosse transmitida pela televisão.
Nós devíamos ter imaginado que, se eles queriam ficar tão escondidos, alguma coisa não estava cheirando bem. Mas éramos estudantes, jovens e otimistas, e a esperança de que pudéssemos fazer diferença não nos permitia imaginar que a noite é que ia nos cair como um viaduto. E que logo mais seríamos nós mesmos os bêbados trajando luto.


Nenhum comentário: